terça-feira, 19 de novembro de 2013

Na costa croata

O dia amanhece com uma brisa que sopra de terra e que deixa finalmente que as águas da Croácia mostrem porque são mundialmente famosas. A estrada que liga o camping a Dubrovnik, o local onde pretendo ficar hoje, percorre a vertente da montanha que se despenha abruptamente nas águas transparentes do Adriático. A cidade é visível a vários quilómetros de distância, mas a sua imponência só é verdadeiramente perceptível quando atinjo o miradouro que deixa antever um cenário fantástico: a fortaleza de pedra com o seu casario no interior e no horizonte algumas das mais de 1000 ilhas que fazem parte da costa deste país. Está um calor tremendo e o trânsito não dá tréguas, obrigando sempre a uma atenção redobrada. Afinal esta é a principal estrada que liga o norte do mar Adriático até ao seu extremo sul. Quando entro no emaranhado de vivendas e pequenos prédios que compõem os arredores da antiga cidade, o trânsito e o movimento de pessoas intensifica-se ainda mais. Dou três voltas ao perímetro das muralhas, para ver se encontro um local seguro onde possa deixar a bicicleta e assim visitar descansado este local classificado pela Unesco. Ainda pergunto num parque de estacionamento subterrâneo se dá para deixar a bicicleta só por um par de horas. Nada feito! Lembro-me do posto da polícia, que fica a umas dezenas de metros dali. Ao chegar lá meto conversa com um guarda que sai para a ronda. Com aquela que deve ser a sua melhor educação manda-me ir procurar outro lado. Já estou nisto há quase duas horas e decido que já chega. Faço-me à estrada para percorrer os 7 km que me separam do hostel onde vou ficar, o alojamento mais barato que encontrei, visto que em Dubrovnik pediam 25€ por pessoa para ficar no parque de campismo. O hostel é gerido por um membro da claque mais antiga da Europa: a “Torcida” do Hajduc Split, fundada em 1950. A maioria das paragens de autocarro que ficam situadas entre a fronteira sul da Croácia e a cidade de Split estão pintadas com as cores e os emblemas do clube. Nunca tinha visto nada assim e falo com o dono acerca disso. A tarde é aproveitada a relaxar e a decidir o que fazer nos próximos dias… tanta confusão e trânsito estão a deixar-me cansado. Decido que amanhã bem cedinho voltar a Dubrovnik para visitar a cidade e nos dias seguintes vou virar para o interior e aproveitar para visitar Mostar, na Bósnia.






Não consigo acordar tão cedo como tinha planeado, mas às 9 já estou em Dubrovnik pronto para dar uma volta pela fortaleza que parece impenetrável. Centenas de turistas percorrem já as principais avenidas e ruelas da cidade. Apesar de toda esta massa de gente, certos locais parecem permanecer indiferentes à passagem do tempo. Num beco, uma pequena porta deixa antever uma barbearia antiga, com as suas paredes carregadas de lembranças e objectos. Na sombra das pracetas, grupos de reformados sentados em bancos de jardim discutem as peripécias da vida. As ruas principais estão transformadas num shopping de souvenirs intermináveis e as margens da pequena marina servem de palco para a venda de vários Tours turísticos. Passada pouco mais de uma hora, decido que é tempo de voltar à estrada. Passo pelo hostel para colocar as bagagens na bicicleta e sigo viagem. Cerca de 10km mais à frente, o calor e um cruzamento com a indicação de praia fazem-me virar á esquerda em direcção ao mar. Acabo numa pequena baía com meia dúzia de pessoas e uma água fantástica, local perfeito para o almoço, um banho e uma sesta retemperadora. De volta à estrada, tudo na mesma: a montanha do lado direito, o mar do esquerdo. A certa altura começa a levantar-se um vento frontal fortíssimo. Estou cansado, sem água e não avisto nenhuma aldeia nas redondezas. Decido que vou parar para pernoitar no próximo local onde encontrar água. Chego a uma baía interior onde se encontram dezenas de viveiros de ostras. Procuro nas barracas dos pescadores por alguém que me possa fornecer um pouco de água. Nada! Estão todas vazias. Ao fundo da baía avisto uma aldeia… é a minha tábua de salvação. Quando me preparo para meter pela estrada que me irá levar até lá reparo numa autocaravana estacionada numa pequena estrada de terra batida sem saída, mesmo á beira de água. Cá fora uma senhora prepara a mesa para o jantar. Aproximo-me timidamente e pergunto se me podem encher uma garrafa de água. É um casal de franceses e claro que me podem fornecer um pouco de água. Depois de uns minutos de conversa convidam-me para passar ali a noite. Monto a tenda perto da traseira da autocaravana e de seguida jantamos juntos. O que à pouco era um fim de tarde cansativo tornou-se num início de noite fantástico… Junto com umas fatias de salmão, partilhamos um “Bordéus” branco fresquinho, que os acompanha desde França, sobre um céu estrelado maravilhoso.







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