quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Até já Albânia. Olá Montenegro!

Antes de sair ainda troco umas informações com o Seb e ele ainda me dá um mapa de Montenegro que já não precisa e que me vai ser muito útil. Até à fronteira a paisagem vai mudando ligeiramente, com o branco do calcário a fazer-se notar um pouco por todo o lado. Reparo também em algo que ainda não tinha visto: plantações de tabaco e folhas da mesma planta a secar em quase todas as casas. Está um calor brutal mas eu prefiro pedalar porque sempre se apanha uma brisa, coisa que parado é impossível.


 A passagem na fronteira faz-se sem problemas e 20 km depois estou à entrada de Podgorica. Volto a ter a mesma sensação que experimentei quando entrei na Albânia, mas agora em sentido oposto… é impressionante como uma fronteira pode encerrar em si tantas diferenças, de um lado e do outro dessa linha imaginária. Aqui, a forma das pessoas se comportarem e reagirem é completamente diferente dos acenos efusivos, dos “hello” ditos com um sorriso rasgado das gentas albanesas. A minha primeira impressão em Montenegro vai de encontro ao “feeling” que tinha em relação a este país: uma paz e tranquilidade imensas, expresso no olhar da maioria das pessoas por quem vou passando ao longo da estrada. Sei que Montenegro é um país com 600 e poucos mil habitantes e esta cidade, vista à distância parece-me relativamente grande para os “padrões” locais. Consulto o mapa. Ups! Afinal é a capital do país e tem cerca de 125 mil habitantes. Vou até ao centro para tentar trocar o dinheiro albanês que tenho por euros, a moeda usada em Montenegro. Entro num banco mas dizem-me que neste país vais ser impossível fazer esse câmbio. Que raio, já estou um bocado farto destes “’ódios de estimação” entre países vizinhos. A cidade não tem muito interesse e praticamente todos os edifícios parecem ser relativamente recentes. À saída do banco o segurança mete conversa e indica-me qual o melhor caminho para sair da cidade. Nunca entrei e saí de uma capital em tão pouco tempo. Está um vento frontal terrível. Acho que deve ser por causa do início de um canyon, 6 quilómetros a Noroeste da cidade. E é precisamente para aí que eu vou, porque o camping onde vou passar as próximas duas noites, com o objectivo de ficar um dia deitado a descansar, fica mesmo na boca desse canyon. Quando lá chego sou o único campista, todas as outras pessoas escolhem o hostel que faz parte do mesmo complexo para ficarem. Entretanto o vento começa a ficar ainda mais forte. Estico a tenda o melhor que sei e consigo. A noite irá ser a pior da viagem, com rajadas próximas dos 80 km/h. Porque raio é que sempre que penso em descansar, acontece precisamente o contrário?




Durante a noite a tenda esticou-se, deitou-se, torceu, mas de manhã está intacta. Só um elástico rebentado. Está desde já justificado o dinheiro que dei por ela (mesmo tendo a mais barata no local onde a comprei). Estou meio morto, preciso mesmo de descansar, mas ao longo da manhã o vento começa a acalmar e o calor dentro da tenda é tanto que mais parece uma sauna. Decido pedir uma cama numa camarata do hostel para a noite seguinte. Assim posso dormir o dia todo descansado. Nem acredito quando o rapaz da recepção me diz que a diferença de preço entre o campismo e a camarata é só um euro! Se soubesse isso antes tinha evitado uma noite de terror dentro da tenda. Mas quando as coisas têm mesmo de acontecer, não há volta a dar. É nesta altura, quando estou na recepção neste processo de mudança, que pego num guia do país que está em cima da mesa. Lá pelo meio saltam-me à vista umas fotos. São de um local a umas dezenas de quilómetros daqui, que fica mesmo na rota que vou tomar até ao parque Nacional Durmitor. Começo a pensar que se calhar paro lá um dia ou dois. 





Entretanto passa um comboio, do outro lado do rio. Tenho uma espécie de déjà vu que me deixa com uma lágrima ao canto do olho e reacende um sentimento de revolta… no meu país também havia uma das últimas linhas de comboio de via estreita em montanha da Europa, num vale lindíssimo onde corria também um dos últimos rios selvagens da Europa. Chama-se Tua e graças a um político “iluminado” que o meu país teve, de seu nome Sócrates, está hoje condenado à morte, à prisão perpétua atrás de um paredão de cimento chamado barragem. Na altura esta era uma entre cerca de uma dezena das que faziam parte do “Plano Nacional de barragens” Afinal, passaram-se alguns anos, veio o papão da crise e da imprescindibilidade da construção de 10, temos apenas só duas em processo de construção. As outras afinal já não vão para frente… Afinal agora já sabemos (dito por especialistas e técnicos entendidos na matéria, não por políticos sem escrúpulos) que não eram precisas nem 10 nem nenhuma: as que temos já chegam para responder às necessidades de consumo que estas duas novas barragens querem colmatar… “Porreiro pah”! É agora meio-dia, vou deitar-me, dormir, descansar e passar o resto do dia a actualizar o blog e a ver umas informações na net para os próximos dias, entre as quais o local que tinha visto no guia. É um parque nacional numa área de montanha e que integra também uma das últimas florestas virgens da europa. Parece-me bem, até porque amanhã vou ter uma subida relativamente inclinada e assim aproveito o dia seguinte para caminhar e descansar as pernas da bicicleta.





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