O dia começa cedo por estes
lados… Às 4h30 começa a amanhecer, por isso a rotina das pessoas também começa pouco
depois da primeira luz do dia. Despeço-me da família e quase não tenho de
pedalar durante 20km até ao cruzamento para Biogradska Gora, o meu destino de
hoje, porque a estrada é sempre a descer. À entrada do parque, que encerra
dentro dos seus limites uma das últimas florestas virgens da Europa, está uma
cancela e uma pequena casa de madeira são o local de trabalho da funcionária
que cobra a taxa de entrada (igual para todos os parques nacionais no país).
Depois de pouco mais de um par de quilómetros a subir por entre Faias, Abetos, Amieiros,
Freixos, Salgueiros, grande parte deles com 30 a 40 metros de altura e 400 a 500
anos de vida, chego ao lago que é o centro de partida da maioria dos percursos
pedestres do parque. É também na sua margem sul que se situa o centro de
recepção de visitantes, um restaurante e o local para campismo.
Quando paro
para montar a tenda apercebo-me também que este é o local com mais mosquitos
por metro quadrado onde estive até hoje. São aos milhares, mas contra os
ataques destes sugadores de sangue também tenho uma arma: besunto-me de
repelente, mas mesmo assim não me irei livrar de dezenas mordidelas nas pernas.
Espero o final da tarde, depois de uma sesta, deixando que a maioria dos
turistas saia do parque, e porque é nesta altura que a luz do dia faz parecer
este local ainda mais mágico, para fazer o percurso pedestre que circunda o
lago. Só há silêncio e a luz dos últimos raios de sol, que ganham tons de fogo
quando encontram as copas das árvores. Entretanto anoitece e nada me preparou
para o espectáculo que irá ter lugar de seguida. Pirilampos, milhares deles,
espalham-se pelo solo da floresta, num show de luzes impressionante, onde os
actores secundários são os esquilos que, agora a coberto da noite, aproveitam
para tentar procurar algum pedaço de comida que tenha ficado esquecido por
algum turista. Gostava de ter uma máquina fotográfica decente para registar
tudo isto. Como não tenho contento-me com as imagens que ficarão gravadas na minha
memória para sempre.
Apesar de o local que escolhi
para colocar a tenda ser fantástico do ponto de vista da localização, o chão é
duro e quando acordo parece que acabei de levar uma tareia. Hoje vou tentar
fazer o percurso pedestre que está recomendado no placard informativo. Pelo que
consegui perceber do mapa, na elevação que marca o topo do percurso consegue-se
ter uma perspectiva fantástica de uma boa parte da área abrangida pelo parque.
Já sei que as primeiras duas horas vão ser a subir mas o trilho, sempre por
entre as árvores, faz esquecer o esforço que algumas zonas requerem. Quando
chego ao cruzamento onde tenho de virar à esquerda, encontro as primeiras
pessoas, mas elas seguem pela direita. A partir daqui as marcas que assinalam o
percurso desaparecem e a vegetação toma conta do trilho. Recuo! Se calhar enganei-me.
Consulto a foto que tirei do mapa do percurso e analiso por onde segue. Não, o
caminho é mesmo por onde estava a ir. Decido tentar atravessar a zona de
vegetação onde o trilho desaparece, mas com cuidado porque entre as árvores não
tenho pontos de referência e não me quero perder. Passados uns 30 metros
reencontro o trilho, que mais à frente conduz a 2 casas de pastores abandonadas
que de verão trazem os animais até aos pastos verdes das cotas mais altas.
A
partir daqui existe um trilho que, aparentemente, segue na direcção contrária
àquela que tenho de tomar. Ainda o percorro cerca de 200 metros mas depois
decido voltar para trás e procurar o que me parece ser o mais indicado, mas sem
sucesso. A erva alta não permite vislumbrar nada que se assemelhe a um trilho,
a não ser as marcas deixadas pelos javalis. Faço duas ou três tentativas de o
procurar, mas em vão. Decido almoçar num rochedo que tem uma vista fantástica e
voltar para trás. São quase duas da tarde, estou a começar a ver umas nuvens de
trovoada e para chegar à tenda vão ser quase outras duas horas, a contar que
não haja nenhum imprevisto. A ameaçada de trovoada não passou disso mesmo, pelo
menos para já, por isso quando chego à tenda, coloco os calções de banho e dou
um mergulho nas águas frias do lago. Quando vou para começar a preparar o
jantar começa a chover torrencialmente. Existem dois abrigos de madeira, um com
uma mesa grande de madeira, outro com uma fogueira que os guardas do parque mantêm
acesa durante todo o dia. Há um grupo que faz um churrasco, já bebeu umas boas
cervejas e canta alegremente músicas tradicionais de Montenegro. Antes de irem
embora dão-me o pão que sobrou e eu aproveito o espaço livre em torno da
fogueira para comer, acompanhado de mais dois homens que infelizmente não falam
inglês.
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