Acordo feito num farrapo! Tenho
as pernas doridas e dormi mal. Aproveito a manhã para ir até ao centro da vila para
actualizar o blog e comprar comida. Aproveito também para comprar um copo de
mirtilos a uma das duas famílias que os estão a vender à porta do supermercado
e, de seguida, dirijo-me à padaria que, tal como nos outros países que tenho
atravessado nesta viagem, tem uns folhados de fazer água na boca a qualquer
mortal. Regresso ao camping preparado para almoçar e dormir uma sesta
reconfortante, mas o calor que se faz sentir e a discussão entre o casal que
decidiu montar a tenda a um metro da minha, não me permitem mais do que uma
hora de descanso. Aguardo então pelo final da tarde para fazer uma pequena caminha
a um dos muitos lagos existentes ao longo do parque. Como já passa das 5, o
guarda que cobra a taxa de entrada nos trilhos já não se encontra ao serviço. Embrenho-me no trilho, entre árvores enormes e levito pela floresta. Sim…
levitar é a palavra exacta para aquilo que sinto quando caminho e tenho os
sentidos ocupados com a beleza daquilo que observo, oiço e respiro. Não
encontro muita gente e a maior parte vem já em sentido contrário ao meu,
terminando assim um dia de deambulações pelo parque. Chego rapidamente ao local
que tinha planeado. Um lago rodeado de floresta cerrada, que não permite ver
além das copas das primeiras árvores, é iluminado pelos últimos raios de sol,
que dão ao local um aspecto mágico, onde decorre uma dança cor-de-fogo entre a água,
a vegetação e o sol. Tento tomar outro
trilho de volta ao camping mas perco-me. Decido voltar para trás… está a
escurecer e não vale a pena correr riscos.
É quando estou a voltar para trás que reparo num monte de lixo deixado ao lado do trilho... aqui há ainda um longo caminho a percorrer nesta matéria. Umas dezenas de metros antes da entrada do camping, um grupo de crianças joga badminton num campo improvisado. As consolas e os jogos de computador podem esperar pelos dias frios porque, agora que é verão, aproveita-se para estar ao ar livre. Chegado à tenda, sou assaltado por
uma nostalgia tremenda… amanhã já irei estar noutro local, longe daqui e já
começo a sentir saudades desta vista, destas pessoas e desta paz. A cozinha do
camping está especialmente requisitada hoje e quando chega a minha vez de
cozinhar o jantar divido o fogão com um belga que está a viajar durante 10 dias
por Montenegro com a namorada. Trocamos impressões acerca do país e desta paz
desconcertante, até que o rapaz me diz que estudou política internacional na
universidade me pergunta agora pela situação no meu país… Quando lhe conto,
muito por alto, como vão as coisas em Portugal, como funciona o governo
manipulado pelas grandes empresas, a sua reacção é igual á de todas as outras
pessoas com quem tive oportunidade de trocar impressões sobre a situação em que
o meu país se encontra: esboçam um sorriso pelo ridículo daquilo que se passa
no extremo oeste do continente Europeu. Entretanto já temos o jantar preparado,
mas a conversa ainda vai a meio, por isso convida-me para me juntar a ele e à
namorada. Moram em Gent, ele trabalha na faculdade e para incentivar a utilização
da bicicleta, pagam-lhe 20 cêntimos por cada quilómetro percorrido entre a sua
casa e o local de trabalho. Sorrio ao ouvir isto e imagino a mesma medida a ser
implementada em Portugal… de um dia para o outro a venda de bicicletas
disparava e acabavam-se rapidamente as desculpas do frio, da chuva, das
subidas, etc.
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