Uma das razões que me trás aqui é
caminhar, mas não o vou fazer já hoje. Pelo menos um percurso longo! Vou, antes, aproveitar
para descansar, dar uma volta pelas redondezas, actualizar o blog e fazer
compras para os próximos dias. A manhã é passada no centro da vila, num banco
de jardim de onde consigo apanhar uma rede de Wifi desbloqueada. No mapa que a
Bernii (a australiana, a viajar de bicicleta pelos balcãs durante 4 meses, que conheci duas semanas antes no coração da Albânia) me deu, com uma rede de percursos pedestres que abrange três parques
naturais nesta zona, há um local que me desperta imediatamente o interesse: uma
escarpa situada no encontro de 3 canyons diferentes. Deve ter uma vista
soberba… pego na bicicleta e tento ir até lá, mas quando já tenho 7 km feitos
decido que vai ter que ficar para outra altura. O terreno é um sobe e desce
constante e eu hoje tirei o dia para descansar, não para amanhã estar sem me
mexer.
Volto para trás e procuro outro local mais próximo do ponto onde me
encontro, que está assinalado no mapa como sendo um miradouro sobre o canyon do
rio Tara. Procuro, procuro, mas não encontro… Mesmo com o mapa, meto pelo primeiro
cruzamento à direita, quando devia ter seguido em frente. Não faz mal. Fico
contente assim, porque passo por aldeias isoladas no planalto e pessoas com aquela simplicidade ternurenta, que sorriem e
acenam à minha passagem. Há aqui uma calma e uma paz impressionantes e as
quem aqui vive reflecte isso mesmo. Quando volto ao camping, a filha
mais nova do casal que detém o parque, brinca na relva, rebola-se, abre os
braços e sorri. É feliz aqui. Penso que no meu país, tal como noutros que estão
em paz, as crianças brincam às guerras, às pistolas e aos mortos. Aqui, neste
país farto da guerra, brinca-se à paz e celebra-se a vida! O mundo está todo
virado do avesso… A 10 minutos de caminhada daqui fica o Crno Jezero, ou
BlackLake, em inglês, uma das atracções do parque Nacional do Durmitor. Espero
pelo fim da tarde para ver o lago. A luz do final do dia dá sempre um toque
mágico à natureza e a maior parte das pessoas que lá passaram o dia devem estar
agora a regressar a casa. Um trilho em volta do lago permite observá-lo de
todos os quadrantes, sempre à sombra de árvores que balançam suavemente com a
brisa que se faz sentir, sob o olhar atento das montanhas circundantes, que parecem assumir o papel de guarda-costas a tamanha beleza.. Há famílias em piqueniques, pessoas que fazem jogging
depois de um dia de trabalho e outras que tentam encontrar um enquadramento
mais improvável para conseguirem uma boa foto. Todos reunidos em torno do mesmo
fenómeno, tão belo e tão simples: a natureza no seu esplendor!
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