O dia começa mais cedo do que o normal... ligaram-me na Quinta-feira passada de Portugal, da Antena 1, a dizerem que souberam da viagem através de um contacto de alguém que segue o blog e que me queriam fazer uma entrevista em directo no programa da manhã do José Candeias. Assim como fiquei estupefacto com este telefonema, também estou meio nervoso agora. Vão ligar-me dentro de poucos minutos para eu entrar em directo. A entrevista lá corre entre os sorrisos nervosos e gaguejos de alguém que tenta explicar que não está a fazer nada de transcendente, mas uma surpresa no final lá me deixa finalmente descontraído.
Quero estar na loja à hora de abertura (10h), para que, caso algo não corra
como previsto, tenha tempo de ir a outras lojas de bicicletas. Uma via rápida
com 2 faixas e muito trânsito é o caminho mais rápido. Chego com 15 minutos de
antecedência, estaciono a bike no local apropriado e espero. Assim que o
segurança dá sinal para se abrirem as portas dirijo-me ao sector das
bicicletas, explico-me ao funcionário e passados dois minutos tenho a caixa de
cartão na mão e um alívio enorme na consciência. O caixote é enorme, muito
maior do que todos os outros que já tive de utilizar até agora. Para o levar
até ao camping tenho de o dobrar o mais que consigo e atá-lo à mochila. Ainda
por cima está vento, coisa rara ao longo dos últimos 50 dias, mas umas centenas
de metros são suficientes para me habituar a esta “carapaça”. No parque de
campismo 40 minutos chegam para arrumar tudo e colocar toda a bagagem
na bicicleta. Contas feitas na recepção e desapareço em direcção ao aeroporto,
a 7 km de distância. Pelo caminho os olhares de espanto por parte das pessoas com quem
me vou cruzando na estrada, reflectem também o meu estado de espírito – sorrio
só de pensar que às minhas costas está um cartão com um metro e meio de altura
que me faz parecer uma espécie de homem-foguete.
Chego rapidamente ao destino
quando faltam ainda 4 horas para o voo. A sombra de uma pequena construção no
parque de estacionamento é o local perfeito para montar a caixa de cartão,
desmontar a bicicleta e as bagagens e embalar tudo num só volume. Andar com uma
caixa de cartão deste tamanho no aeroporto é, por si só, uma aventura, porque
tenho de andar com a cabeça de lado para ver por onde vou, o que me faz
parecer um miúdo que joga às escondidas sem parar. A prioridade ao entrar no
edifício principal é ver como está o estado do voo… atrasado uma hora. Tranquilo!
Não tenho pressa. As horas que me separam da entrada para o avião irão ser
passadas entre sandes, música e check-in com pessoal stressado. Na hora de
partir o avião está cheio, mas ainda há tempo para uma pequena confusão por
causa de dois passageiros que têm o mesmo lugar atribuído no bilhete. Durante o
voo vou revendo mentalmente os momentos passados ao longo destes 50 dias e
sorrindo com a ideia de ter em Lisboa 2 pessoas fantásticas à minha espera. O
avião aterra, gera-se a confusão normal com a recolha das bagagens, mas não há
sinal da bicicleta. Também um espanhol que por ali anda tem em falta o carrinho
de bebé do filho. Do tapete das bagagens fora de formato, nem sinal de vida.
Depois de chamarmos uma assistente de terra reparo que o tapete começa a
funcionar… abre-se a persiana para a bagagem sair mas…não sai bagagem nenhuma e
a persiana volta a fechar-se. Um minutos depois percebo a razão: a caixa da
bicicleta é tão grande que está presa no lado de lá do tapete e com ela também
o carrinho de bebé. Oiço uns funcionários a ajeitarem o caixote e finalmente vejo
a tão desejada embalagem. Já não consigo parar de sorrir com esta situação e
com o facto de, a escassos metros dali, estarem pessoas que não vejo há quase 2
meses. O reencontro dá-se! Abraços e beijos, alegria… Agora só falta conseguir
colocar a caixa dentro da caixa da minha carrinha! Nada que uns rasgões no
caixote não resolvam. Pegar num volante de um carro parece-me agora um acto
estranho e ainda mais estranho me parece estando eu a conduzir em direcção ao
conforto de casa. A viagem começa e acaba quando, dentro de mim, começo a
pensar na próxima. É por isso que agora, ao volante do carro, ainda estou a
viajar.
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