quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Veneza

Às 7 da manhã já estou a pé. Quando saio da tenda o Cyril e a Cécile já deixaram o parque em direcção ao aeroporto. Apresso-me com o pequeno-almoço e com a higiene matinal para estar a tempo na paragem de autocarro para ir a Veneza. Chego uns minutos antes à paragem e ainda bem, porque me esqueci do bilhete na tenda e não o posso adquirir no autocarro. Dou uma corrida de ida e volta, ainda a tempo de apanhar o transporte que em dez minutos me deixa na entrada principal (e única para quem vem de carro) de Veneza. Há um silêncio e uma calma enormes, só quebrado pelo marulhar da água dos canais contra as paredes das casas. As ruas estão praticamente desertas, mas já se vêem, aqui e ali, alguns grupos de turistas. Tive muito pouco tempo para pesquisar alguma coisa sobre a história de Veneza e sobre a influência que teve, enquanto capital de um pujante estado comercial da alta Idade Média, que abrangeu ainda uma área de terreno considerável, estendendo-se, por exemplo, até às ilhas do Adriático. Deixarei para depois, quando estiver já em casa, fazer toda a pesquisa relativa aos lugares onde estive. Sempre é outra forma de perpetuar a memória desta viagem. Ainda assim, da pouca coisa que li, uma saltou-me imediatamente à vista… nos últimos dez anos Veneza perdeu metade dos seus habitantes. Em sentido contrário aumentou desmesuradamente o fluxo de turistas. Será a primeira coisa consequência da segunda? Tudo o que envolve o turismo de massas envolve também excessos a todos os níveis. O termo “Sustentado” devia ser utilizado mais na prática do que na teria. 






Nada desta conversa tira, no entanto, a importância aos canais, às casas, aos recantos menos visitados. O pleno encanto deste lugar fica é adiado na minha existência… talvez no inverno, num dia de semana com frio e com aquele sol mais deitado no horizonte. As ruas em si são um labirinto de tamanho XL, ora com túneis, arcos, ruas que terminam abruptamente, becos sem uma geometria bem definida e a água, sempre a água por todo o lado. Os barcos são os automóveis, as bicicletas, os táxis e as ambulâncias desta cidade. Vejo centenas de gôndolas nas horas que passo a vaguear pelas ruelas. Às 10 horas, tal como tinha acontecido no dia anterior com os meus amigos franceses, a multidão invade os pontos mais turísticos, tal como uma onda que entra pela praia à maré enchente. Nesse preciso momento encontro-me na praça de S. Marcos, o local mais visitado da cidade. As vozes das pessoas ecoam nas paredes majestosas dos edifícios que a compõem, lado a lado com o bater de asas dos pombos, que estão por todo o lado. Sento-me à sombra, debaixo das arcadas que permitem também o acesso ao museu. A velocidade com que as pessoas passam de um lado para o outro é impressionante. Sinto-me em câmara lenta no meio de toda esta azáfama. Sem querer encontro uma livraria que parece minúscula à primeira vista, mas que afinal ocupa todo o rés-do-chão de dois edifícios com livros em segunda mão. Durante mais um par de horas vagueio pela área norte deste emaranhado de casas dentro de água, tentando focar a minha atenção nos pormenores das fachadas, nos rostos escondidos atrás das janelas e em tudo aquilo que pareça relevante ao meu olhar. Está calor e aproveito a tarde para descansar, arrumar tudo para manhã e pensar naquilo que foram os últimos 50 dias. 





Sem comentários:

Enviar um comentário