Durante a noite a trovoada e a
chuva não deram tréguas… e continua! Desço para o pequeno-almoço. Oferecem-me
queijo caseiro de 3 variedades diferentes. No chalet estão 13 pessoas: eu, 4
casais (2 deles com um guia) e as 5 pessoas que compõem a família que gere o
chalet. Esta última vem em Maio para abrir a casa e só daqui sai em Outubro.
Faz-me lembrar a sazonalidade dos pescadores nas Berlengas. A maior parte do
grupo está preocupado… vai descer para o local onde deixou os carros e não pára
de chover. Começo a equacionar o que fazer. Agora já não é só a chuva, mas
também o nevoeiro que envolve toda a montanha. São 6 horas de caminhada até ao chalet
onde tinha planeado passar a noite de hoje, mas com este tempo vão ser muitas
mais, não vou disfrutar de vista nenhuma, vou lá chegar encharcado, estou
sozinho e isto é uma montanha… aqui quem dita as regras é a natureza. Resigno-me.
Não vale a pena! Vou aproveitar e descer com o grupo. Somos 10 e cada um
equipa-se da forma que pode. Sacos de plástico na cabeça, nos sapatos…vale
tudo! Menos ficar encharcado.
Descemos em fila. Os mais velhos
ajudam as senhoras nas zonas mais difíceis. O trilho está transformado num
autêntico rio e temos de usar as pedras para apoiar quase sempre os pés, por
isso todos estão com atenção. O silêncio é quebrado por uma piada que surge de
tempos a tempos. Rimos todos, eu por arrasto e solidariedade, porque não
percebo patavina do que dizem. Fico para trás para tirar uma foto do grupo e um
dos homens pede a máquina para me tirar uma foto. Responde com um “obrigado”
limpinho. “Fala português? Já podia ter dito!” Respondo eu em tom de
brincadeira. Diz-me que esteve 3 anos a trabalhar como mecânico de autocarros,
perto de Lisboa. Entretanto vou pensando num plano B. Tinha planeado 3 dias a
caminhar e não me apetece voltar já para Sofia, logo agora que estava a adorar!
Duas horas depois chegamos ao local onde ficaram os carros.
Despeço-me de todos mas o senhor
do “obrigado” diz para esperar, que tem lugar para mim no carro e que me pode
deixar no mosteiro, que fica a caminho. Óptimo! Poupa-me 3 horas de caminhada
pela estrada à chuva e eu já tenho os pés ensopados! Já estamos dentro do carro à espera que este acabe de
aquecer com o capô levantado e o motor à chuva quando me chamam. Uma carrinha,
que eu pensava estar abandonada, é o transporte de um dos membros da família que
gere o chalet e que desceu junto com o grupo e não pega, por isso há que
empurrar. Problemas mecânicos resolvidos e iniciamos viagem. A mulher do “português”
oferece-me tudo o que vai consumindo: pastilhas, bolachas e cigarros. Só recuso
os últimos.
Despedimo-nos efusivamente à entrada do mosteiro. Aproveito para
dar uma última volta pelo local. Qual não é o meu espanto quando encontro o Jae!
Passou cá a noite. Pergunto-lhe se gostou. Responde que foi espectacular.
Dormiu numa cela dos monges destinadas a peregrinos a troco de 15 euros. São duas da tarde! Assim ainda
consigo apanhar o único transporte que sai do mosteiro, o autocarro que
regressa a Sófia às 3 da tarde e assim também já sei o que fazer! Vou tentar
chegar a Sapareva Banya, a 70 km daqui, que é a vila situada no sopé da
vertente norte do parque Nacional de Rila e que serve de entrada para zona dos
7 lagos. Se calhar vou mesmo aos sete lagos! Só tenho 4 coisas que ainda não
sei como fazer. Primeiro: Tenho de arranjar transporte para Sapareva Banya e
este autocarro só passa numa cidade que fica 20 km a Oeste. Segundo: se quero
visitar os sete lagos num dia tenho de utilizar a telecadeira. Explico: No meu
ponto de vista esta é uma construção que permite a mais gente visitar os sete
lagos. Até aqui tudo bem! Em vez de 2 horas de caminhada para lá chegar, a
telecadeira faz o mesmo em 20 minutos. O problema é a quantidade de gente e,
consequentemente de lixo, barulho, etc. Já para não falar do impacto na
natureza da construção do dito. Esta é a mais difícil de decidir, mas depois
penso que se não for, a telecadeira vai lá continuar à mesma! Lá terei eu de ir
contra os meus princípios. Terceiro: de Sapareva Banya ao teleférico (que é o
fim da estrada) são 17 km e não há transportes. Quarto e mais importante: não
sei se o tempo amanhã permite subir a montanha. É um tiro no escuro, mas decido
arriscar.
Desço em Dupnitsa, a tal cidade a 20 km de Sapareva. Vou até à
estação dos autocarros e em 30 segundos fico a saber que há autocarros todas as
meias-horas e, melhor, também os horários para regressar amanhã a Sofia. Passam
15 minutos e já estou metido no autocarro, que demora 20 a fazer o trajecto. Em
Sapareva não tenho dificuldade em arranjar sítio onde ficar, há painéis com
oferta de alojamento por toda a parte. Olho para a montanha, tentando
vislumbrar alguma coisa, mas as nuvens baixas não me permitem ver mais do que
100 metros para cima! Amanhã logo se vê…
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