domingo, 7 de julho de 2013

Nas montanhas de Rila - último dia

Na manhã seguinte acordo com o barulho dos trabalhadores que ocupam os quartos ao lado, levanto-me como uma mola e vou até à janela para verificar o tempo. Chiça! Ainda está tudo encoberto…são 6:20 e decido dormir mais um pouco. Às 8h o despertador toca. Espreito pela cortina…vejo o azul do céu. Metade deste encontra-se coberto de nuvens negras, a outra metade está limpa, mas não consigo descobrir em que direcção avançam as nuvens. Tomo o pequeno-almoço à pressa, arrumo a mochila e saio. Afinal as nuvens estão a ir embora. Boa! Agora só falta chegar lá acima.

Vou até ao final da vila para tentar apanhar boleia. Uma das coisas que já aprendi com a pouca experiência que tenho é que num local mais isolado as pessoas ficam maiss sensibilizadas para me darem uma boleia, no centro de uma localidade há demasiada "informação" para os olhos de um condutor. Estico o braço e o polegar. Passam 3 carros com turistas e não me ligam nenhuma. A seguir vejo um jipe Lada a aproximar-se com um logótipo na porta. Estico novamente o braço e este encosta. São dois velhotes simpáticos, o que conduz fala um inglês quase perfeito e apresenta uma calma típica de quem já viveu muito. Apresentações feitas e a primeira coisa que me perguntam é se sou do Sporting! “Ahah...não, sou do rival Benfica!” Imagino que me perguntem isto por causas das glórias do futebol búlgaro da década de 90 que passaram pelo Sporting, como Balakov, Irodanov, Cherbakov, entre outros que agora não me lembro! O jipe vai subindo pela estrada que serpenteia montanha acima. A conversa decorre entre o que faço na vida e o que me traz aqui. A certa altura o jipe abranda e o condutor diz-me “José, look right!” À minha direita está um precipício enorme de onde se vê um vale maior ainda! É uma paisagem deslumbrante! Logo de seguida: “José, now look left” e o topo das montanhas mostra-se em todo o seu esplendor. Sinto que estou num tour guiado, quando só pedi uma boleia. O jipe pára em Panichishte, o resort de montanha que fica a 6 km da telacadeira. Qual não é o meu espanto quando vejo que o edifício que os meus “guias” vão abrir é o centro de recepção de visitantes do parque… e eles são os funcionários! Daqui até lá acima ainda são 6 km (uma hora a pé, diz-me um deles), mas o caminho é feito pelo alcatrão, coisa que não me seduz muito.

Depois de me despedir meto-me a caminho e 200 metros depois de me fazer à estrada oiço um barulho de um motor. Estico o braço automaticamente. Estou numa curva, “Chiça, é um táxi”, penso quando vejo o carro abrandar. Já traz um passageiro, por isso eu vou ser um “extra”. Abro a porta e pergunto quanto quer para me levar naqueles 6 km: “2 Lev (1€)”, responde! Nem pestanejo. Salto lá para dentro e 7 minutos depois estou à entrada da telecadeira, que tem a extensão de 4 Km e vence um desnível de 600m, para deixar os visitantes a cerca de 2 km do primeiro lago. Quando estou a comprar o bilhete pára atrás de mim uma senhora a arfar incessantemente. “E ainda só fez o trajecto do carro até aqui, que são 50 metros”, penso. Pergunto-me também se esta senhora tem a noção que para ver os lagos vai ter de caminhar 4 a 5 horas e subir, sem a ajuda de nenhuma telecadeira, cerca de 350m. 


Os sete lagos são assim designados não só pelo número mas também pela proximidade que todos eles apresentam. Têm ainda uma particularidade…são todos em sequência, em que cada um está um pouco mais abaixo daquele que o antecede, formando assim uma espécie de socalco ou escadaria, sendo que o que fica mais alto, alimenta de água todos os outros. As próximas horas são de contemplação, a tentar absorver tudo aquilo que está ao alcance da minha vista. 


Na subida desde o lago mais alto para o ponto de onde se conseguem ver todos os 7, paro ao pé de 3 pessoas que, mais atrás ou mais à frente, têm feito o mesmo trajecto que eu. Metem conversa. Subimos os últimos metros juntos. Quando chegamos ao topo o homem do grupo pára, mete as mãos nas ancas, faz uma última inspiração e grita “José! Very nice place!” Eu sorrio e respondo “Yes. Very beautiful!”.





Não me fico pelos 7 lagos. Ainda tenho tempo, sinto-me com uma leveza desconcertante (uma amiga minha, habituada a caminhar nas montanhas bem me disse, um dia, que quando está a fazer trekking quase perde a sensação do peso do corpo) e dou um salto até à face oposta da montanha. A vista ainda é mais impressionante, com o azul-turquesa de outros lagos que se vislumbram no horizonte, o cinzento dos picos de granito que apontam para o céu, o branco da neve que subsiste teimosamente e o verde da erva que desponta um pouco por todo o lado. Tenho para mim que este é um dos locais mais bonitos onde já estive, e também o mais alto. Sorrio com essa insignificância…sentir-me “alto” a 2500 metros de altitude. É tudo muito relativo, eu sei! Viajei muito pouco até agora e não conheço quase nada do mundo. Mas de entre todos os sítios onde já estive este está no top 3, de certeza. 



Está na hora de regressar porque a telecadeira fecha às 16:30. Agora tenho de tentar apanhar boleia para baixo, porque o último autocarro para Sofia é às 20h e eu ainda tenho 40 km a separar-me de Dupnitsa, o local de onde ele parte. Depois de descer da telecadeira, começo a caminhar estrada abaixo. Ao 3º carro estendo o braço. Não posso acreditar, é outro funcionário do parque. Melhor ainda…vai para Dupnitsa e pode deixar-me na estação! Meia hora depois já lá estou e antes de subir para o autocarro ainda tenho tempo de mandar uma cabeçada num ferro saído de uma parede, no qual não reparei (terá sido este o Karma por ter ido contra a minha própria convicção ao utilizar a porcaria da telecadeira?). Se já estava nas nuvens com o dia que estava a ter, agora fiquei a ver estrelas! Fico com uma dor de cabeça que irá durar 2 dias. Regresso a Sofia com a alma limpa e cheia de imagens maravilhosas.

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