quarta-feira, 17 de julho de 2013

Vranje - Skopje

Às 8h já não se consegue estar dentro da tenda com o calor! O casal que ocupa a tenda ao lado (a única, além da minha) pede desculpa pelo barulho, mas não conseguiram manter os dois filhos pequenos mais tempo deitados. Sorrio, digo que não há problema, que não consegui dormir mais por causa do calor, não do barulho. São ingleses, trabalham na Suíça e estão já foram até à Grécia. Regressam agora a casa, passando ainda pela Bósnia e Croácia. Combinamos que se nos encontrarmos na Croácia, me dão boleia… em troca digo que tomo conta dos filhos no banco de trás do carro eheheh! Antes de sair ainda pergunto ao Marku, o dono do parque, qual o caminho mais curto para Skopje, onde planeio chegar nesse dia. Diz-me que posso apanhar uma estrada que segue pelas aldeias, mas que depois tenho mesmo que apanhar a estrada principal, antes de chegar à fronteira com a Macedónia. Tento sempre evitar as estradas com maior movimento, assim pedalo mais tranquilo e posso concentrar a atenção nas pessoas e nos lugares. 



Depois de alguns quilómetros em estradas que já foram mais alcatroadas do que aquilo que são hoje, entro na estrada principal. Qual não é o meu espanto quando reparo que estão a construir uma auto-estrada mesmo junto à estrada já existente e, melhor, já está alcatroada. Espetáculo! Assim vou sem trânsito num tapete novinho. Tenho duas faixas de rodagem só para mim. O asfalto segue a única via possível aqui… um vale que, no sentido Norte-Sul, que conduz à fronteira. Por entre campos de trigo e milho vislumbro uma transformação na paisagem… minaretes e mesquitas em tudo o que é aldeia. Estou portanto a entrar numa zona muçulmana. 



Ao chegar à fronteira com a Macedónia o guarda olha para mim, faz-me as perguntas da praxe e quando lhe conto da viagem diz “Catastrophic”!!! Na parte Macedónia o guarda faz um semblante carregado mas depois sorri e pergunta se tenho licença para a bicicleta! Solto uma gargalhada e respondo que não, que ando a viajar de forma ilegal eheh! Curioso o facto de, na fronteira, as bandeiras Sérvia e Macedónia estarem frente-a-frente, sendo que do lado Macedónio decidiram colocar um mastro muito maior. Será um sinal de afirmação? Daqui até Skopje não tenho outra hipótese senão seguir pela auto-estrada. A princípio ainda fica apreensivo, mas depois vejo pessoas a caminhar pela berma, polícias a saltarem o separador central e motards sem capacete a alta velocidade e fico mais aliviado. Paro numa bomba com wifi, marco o hostel para os próximos 3 dias em Skopje e resolvo umas coias em Portugal através da net. A preocupação volta quando, no final de uma subida vejo as portagens. Portagens??? “Queres ver que vou ter de pagar para andar na auto-estrada de bicicleta?” Não, o portageiro manda-me avançar. Está um calor infernal mas consigo ter discernimento suficiente para notar a diferença da paisagem. As montanhas continuam, mas agora com formas mais suaves, vegetação mais rasteira e um terreno cor de ocre que dá por vezes um aspecto lunar a determinados locais. Entrar e sair de uma grande cidade de bicicleta é uma experiência “engraçada”, digamos. O trânsito, o aglomerado de casas, pessoas e a poluição, tudo em crescendo até se chegar ao centro.



Paro numa taberna debaixo de um viaduto de uma auto-estrada para perguntar a direcção da avenida que fica perto do hostel. Não podia ter mais pontaria… está um grupo de trabalhadores de uma empresa de entregas expresso a começar o jantar! Um deles salta da cadeira como uma mola para me ajudar e começa a coçar a cabeça quando lhe mostro o nome da avenida. Não está a conseguir lembrar-se onde fica a avenida e isto, para um estafeta, é uma afronta! Não tem o Gps com ele mas pede um telefone a um colega. Não liga à internet o raio do telemóvel! O homem está possuído! ”Sorry my english. Fucking mother telephone!”, diz sem parar! Depois de consultar um colega volta-se para mim: “Listen to me!”, enquanto rabisca no meu diário o trajecto até ao local. Depois chega um colega, que diz que por onde ele me indica é mais longe, que se fizer assim e assado estou lá num instante. “Decidam-se homens” – penso eu a rir com a situação. “Listen to me” - e já está desenhado outro percurso. Despeço-me, agradeço e passados 5 minutos estou em frente ao hostel, localizado perto do rio, num bairro composto por vivendas e ruelas estreitas. O meu propósito para os próximos dois dias é descansar, actualizar o blog, conhecer a cidade e desfazer uma dúvida que me assalta desde que soube que ia passar por este país: será que o nome Macedónia tem alguma coisa a ver com a "nossa" macedónia de legumes? É uma pergunta parva, mas não vou sair de Skopje enquanto não souber.



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