terça-feira, 23 de julho de 2013

Skopje - Final take!

Na manhã do dia seguinte apanhamos um táxi e passados 20 minutos estamos em Shutka. Esta é considerada a capital Roma na Europa e é também um município liderado por um individuo da comunidade. Prefiro utilizar o termo Roma porque a palavra “cigano” é muitas vezes vista com uma carga estupidamente negativa. Aviso desde já que sou contra qualquer tipo de distinção e discriminação no que ao ser humano diz respeito. Pelo contrário: cada vez me convenço mais que somos todos muito parecidos, especialmente no nacimento, morte e nas ambições de uma vida um bocadinho melhor a cada dia que passa. Sou sim fascinado pela forma como o ser humano se adapta a cada local e como essa adaptação molda a sua forma de viver.

O táxi deixa-nos na avenida principal, que tem quase 1 km de comprimento. De um lado e do outro, bancas, pessoas e animais, no centro automóveis, motos, bicicletas e autocarros. É muita informação ao mesmo tempo e eu ainda estou a tentar absorver tudo quando o Johan nos conduz para umas ruelas longe do reboliço. Não há esgotos em muitas das casas, por isso as ruas são o local de escoamento. Entre barracas de lata e cartão, casas com piscina, montes de lixo e plástico à porta das casas, crianças sujas e com um olhar doce, chegamos ao morro que determina o local mais alto da cidade. Quase todo o lixo da capital vem parar ao bairro. Aliás, desde que iniciei a viagem em Sofia que, por todo o lado, observo Romas com motoretas adaptadas  a remexerem nos caixotes do lixo para fazerem a reciclagem à sua maneira: cartão pra um saco, plástico para um big bag e se houver ainda alguma comida em condições ainda vai para outro saco. O Johan conta-me que o plástico é o maia rentável porque por um determinado peso de embalagens em plástico recebem em troca 1 euro. Esse plástico serve também para, no inverno, fazer fogueiras que aquecem as casas e as entradas dos estabelecimentos comerciais no bairro.

No centro deste está uma casa enorme. É do presidente da comunidade, conhecido por “Elvis”. Ao lado, um campo de futebol de terra batida onde alguns miúdos jogam e perto deste uma das construções que o Johan fez para as crianças, utilizando manilhas, cimento e tintas, nada mais. Penso nos recreios das escolas primárias do meu país, cada um com um campo de futebol que castra qualquer opção por outro tipo de desporto ou brincadeira. Alguns miúdos reconhecem imediatamente o Johan e pedem-nos por favor para jogarmos um pouco com eles. “Ok, mas só 5 minutos” – diz o Johan, mas demoramos 15 até que decidam quais vão ser as equipas, eheh. Na minha equipa o guarda-redes é uma rapariga lindíssima, com uns olhos azul-turquesa e uma expressão meiga. A seguir somos convidados pela organização alemã que está a realizar um projecto na cidade para tomar um café. Conversa puxa conversa e passada uma hora almoçamos, passeamos pelo bazar e regressamos a Skopje de autocarro. Despedimo-nos e eu vou direitinho à loja de informática onde tinha deixado o computador nessa manhã porque no dia anterior tinha decidido não ligar à internet, o que me levou a marcar mais uma noite no hostel com a qual não estava a fazer conta. Fico mais descansado quando lá chego. Afinal estava era infestado de vírus, cavalos de tróia, etc. Agora já posso continuar a actualizar o blog e a falar com a família em Portugal.



No último dia em Skopje aproveito para visitar o canyon mais profundo da Europa, que fica a apenas 15 km da cidade. Mas antes ainda tenho de ir ao banco para trocar dinares sérvios por dinares macedónios. Espero 40 minutos da fila, perco o autocarro e quando chega a minha vez dizem-me do outro lado do balcão “Not here” e apontam com o dedo para a casa de câmbio, 50 metros ao lado. Que burro! São 11 horas e assim espero pelo autocarro das 12h10 que, quando chega ao local, deixa os passageiros a 100 metros do paredão que forma o lago ao longo do canyon, com mais de 20 km de comprimento. A partir daqui tenho 2 hipóteses. Ou sigo pelo trilho pedestre que acompanha o canyon através das escarpas, ou atravesso o lago e subo até um mosteiro localizado no planalto acima do canyon, de onde se tem uma perspectiva brutal do fenómeno natural. Almoço e decido meter pelo Canyon, até onde conseguir e depois voltar para trás para apanhar o autocarro de volta à cidade. Decido mas só durante 5 minutos, que é o tempo que demora até uma trovoada brutal se formar, começar a chover torrencialmente e colocar toda a gente ao abrigo da esplanada do único restaurante existente. 



Estou eu sentado a olhar a chuva e a beber uma cerveja quando duas mulheres e um homem que procuram uma mesa vaga que não existe, pedem se se podem sentar. Claro que sim! Apresentações feitas e depois de 10 minutos de conversa o homem diz-me que as mulheres Macedónias é que são lindíssimas. Sorrio, olho para as duas que tenho à minha frente e penso que me dizem isso (que as mulheres do país onde vivem são as mais bonitas) em todos os países onde já estive. Entretanto a chuva pára e eu meto-me ao caminho. O trilho segue por uma plataforma escavada na escarpa sobranceira ao rio que, por vezes, não tem mais que 60 ou 70 cm de largura. Lá em baixo, a umas dezenas de metros, fica a água, por isso convém contemplar a paisagem quando estou parado, não em andamento. Fico impressionado com a quantidade de lixo espalhado no início do percurso, onde a maioria dos turistas chegam. Depois as pernas acusam o cansaço e os turistas voltam para trás. O trilho fica então para os curiosos e o lixo desaparece. 



Passada uma hora de caminhada, encontro um casal em sentido contrário que me diz que o trilho está tapado um derrube, que é impossível continuar. Volto para trás e aproveito agora a luz de final do dia para tentar captar a magia do local. Esta noite vou ter de descansar bem porque amanhã volto ao pedal e o corpo acusa sempre uns dias de descanso quando nos voltamos a colocar em cima da bike.



Este pensamento dura apenas uma hora, porque no autocarro de regresso a Skopje segue uma inglesa, colega de camarata no hostel, nos últimos 2 dias. Os hostels são uma forma fantástica de se conhecerem novas pessoas, trocarem-se experiências, arranjar companheiros de viagem, etc. Quase toda a gente que conheci no hostel em Skopje seguia os mesmos passos: guia Lonely Planet na mão e visita a locais que sejam servidos por hostels, de preferência. Estes guias têm tudo, é só abrir, folhear e ir. Viajar é tão fácil!! Ou ainda há por aí alguém a acreditar que não? Combinamos uma ida ao festival, só para beber uma cerveja, mas os planos são alterados quando chegamos ao hostel e damos de caras com mais um inglês e uma canadiana. Jantamos e decidimos que vamos até ao festival, mas que se a música não agradar bebemos uma cerveja num bar e voltamos para casa, porque na madrugada seguinte há dois deles que têm voos marcados. Quando saímos, passamos só pelo outro hostel que pertence aos mesmos donos, para ver se alguém está a fim de nos acompanhar. Um grupo de 5 rapazes (entre ingleses, neozelandeses e americanos) já está preparado para atacar a noite e assim seguimos directos para uma zona de bares e a seguir para área dos clubs. É neste percurso que me lembro que não estava a fazer conta com este cenário e me lembro que estou de sandálias e calções. A zona onde estamos tem 3 clubs, são os mais caros de toda a Macedónia e é aqui que se pode observar a fina flor do jet set nacional, por isso no primeiro club onde entramos pagamos a excentricidade de 2€! Rimos, dançamos e eu de sandálias e calções quando vejo toda a gente vestida a rigor. O grupo já está todo em rotação máxima e decide ir para outro club, este o mais caro e o mais vip de todos. Vêm-se carros de luxo, mulheres “mascaradas” (tal é a quantidade de maquilhagem que usam), umas novas a quererem parecer velhas, as velhas a quererem parecer novas e uma fila para entrar. Metade do grupo entra, a outra metade segue para o hostel. Eu estou na segunda. São duas e meia, eu estou cansado, pediam 5€ para entrar no club mais caro da Macedónia e amanhã vou pedalar. Levantamos o braço, um táxi pára, leva-nos ao hostel, despeço-me de pessoas que provavelmente nunca mais irei ver e adormeço. 

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