De manhã o Vasco mete mais
conversa. Trabalha para patrões portugueses em Paris e diz que são bons
pedreiros… metem uma casa de pé em dois meses! Oferece-me uma garrafa de
aguardente caseira feita pelos pais! Depois de arrumar tudo, leva-me até ao
museu da cerâmica, outrora a principal actividade económica da aldeia. Já está
mais à vontade, por isso diz-me que quando me viu a chegar, na véspera, pensou
que eu fosse um Roma a pedir esmola! Solto uma gargalhada enorme e o Vasco
também sorri, embaraçado! No museu os vasos e artefactos são lindíssimos e há
também um centro de ensino onde todos os anos, estudantes vêm aprender as técnicas utilizadas. Fico especialmente impressionado quando o
Vasco me mostra o antigo sistema de canalização da água utilizado pelos habitantes da aldeia, com tubos de cerâmica com 45cm de
comprimento cada. Todas as pessoas eram obrigadas a canalizar a sua água desde
a montanha até a casa utilizando estes objectos!
Em frente ao museu está o
vizinho do Vasco a apanhar cerejas. Deita uma tranca da cerejeira abaixo para
eu tirar as cerejas que quiser. O Vasco fala-me ainda da vida em Paris, que é
uma selva! Imagino como possa uma pessoa nascida aqui habituar-se ao corrupio
de uma grande cidade. Não admira que os seus dias de férias aqui sejam passados
sentados numa cadeira no alpendre de casa, a contemplar a paisagem. Conta-me também que o médico Stamen Grigorov, que descobriu uma das bactérias utilizadas
no fabrico do iogurte (Lactobacillus delbrueckii subsp. Bulgaricus), em 1905,
era de Tran, onde hoje existe um museu do iogurte. Mas hoje é Segunda-feira, o
museu está fechado… vai ter de ficar para outra altura.
Despedimo-nos e ando 6 km para trás para ver a garganta do rio Erma. Um trilho por entra a vegetação conduz a uma ponte artesanal de madeira, de onde pode observar a garganta que aperta o rio neste local e o faz correr velozmente por entre as rochas . Tem um túnel
escavado na rocha, que inicia um trilho pelo canhão mas eu tenho de continuar viagem, por isso volto para Tran, deixo a bike na
polícia e faço compras para os próximos dias. Enquanto almoço no jardim localizado no centro da vila, um grupo de crianças aproxima-se timidamente. Comunicamos por gestos e quando digo as palavras mágicas (Portugal, futebol e Cristiano Ronaldo) todos soltam um "Yeahhhhhh". Um deles bate com a mão no peito sem parar e diz "Cristiano ronaldo Fan!!!"
A fronteira da Sérvia afinal ficava mais
próxima do que aquilo que eu imaginava. Depois da fronteira há uma área de 10 km
onde só vejo uma casa na beira da estrada. Para chegar ao lago onde vou ficar
tenho uma subida longa mas quase sempre à sombra. O parque de campismo do lago tem uma
localização brutal mas está abandonado. Parece que “abriu” neste dia e andam a
cortar a erva e a arranjar a parte eléctrica. Não há qualquer recepção, por
isso presumo que não se pague. Fico perto de uma roulotte, com vista para o lago.
No dia seguinte, começo a pedalar numa descida que dura quase uma hora, acompanhando a floresta até chegar à cidade mais próxima. Lá tento
trocar Levs por dinars mas nenhum banco nem casa de câmbio aceita. Aproveito
para almoçar numa padaria e comprar fruta.
Meto-me a caminho de
Vranje, onde chego pelas 3 e tal da tarde. Procuro um parque de campismo que tinha visto na net. Ainda
me engano, tenho de pedir direcções numa bomba de gasolina e passados 10
minutos estou lá. Tem uma piscina enorme e um relvado super bem cuidado para
acampar. Sou bem recebido pelo dono que me oferece uma cerveja. Diz que não tem
wifi mas pode emprestar-me a pen com net. No bar estão uns amigos dele e a conversa vai parar aos jogadores sérvios que o Benfica contratou e àqueles que já jogaram em
Portugal. Antes de fazer o jantar ainda tenho tempo de dar um mergulho
na piscina, um "luxo" pouco habitual nesta viagem!
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